Vários estudos clínicos demonstram que os ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 atuam de forma positiva no sistema nervoso central. Em 2020 um grupo de pesquisadores da Southern Medical University-China, publicou na renomada Nature Communications, um estudo que avaliou o efeito agudo da ingestão de ácido graxo eicosapentaenoico (EPA) e do ácido graxo docosaexaenoico (DHA) na aprendizagem e memória de camundongos (C57BL/6J)1. Ao contrário do que é apontado pela literatura, uma hora após a administração intragástrica de EPA foi observado prejuízo da função cognitiva de animais adultos e pré-adolescentes em diferentes testes comportamentais, de um ensaio dose-resposta. Através da detecção dos níveis de EPA no hipocampo após a gavagem, em conjunto com resultados utilizando modelos animais transgênicos (fat-1), e somado a observações feitas ex-vivo, os autores confirmam que o prejuízo cognitivo veio especificamente do aumento de EPA. A explicação do mecanismo molecular para esse fenômeno foi demonstrada através da diminuição da potencialização a longo prazo (LTP) em neurônios hipocampais. Os autores também sugerem, através de experimentos utilizando modelos knockout, que a queda da LTP seja mediada via sinalização do receptor 5-HT6R que aumenta transmissão GABAérgica também no hipocampo. Interessante foi observar que não foi encontrado os mesmos efeitos com relação ao DHA, e que a associação de EPA e DHA preveniu a queda da função cognitiva causada apenas pelo EPA. Portanto, o trabalho conclui que os efeitos causados pela ingestão de ômega-3 são dependentes da razão que os ômega-3 estão presentes e que precauções com relação a sua suplementação são necessárias.
Referências
Liu JH, et al. Acute EPA-induced learning and memory impairment in mice is prevented by DHA. Nat Commun. 2020 Oct 29;11(1):5465. doi: 10.1038/s41467-020-19255-1.
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