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Foto do escritorVenturini C

A obesidade materna é importante fator de risco também para desenvolvimento da obesidade, doenças cardiovasculares e distúrbios metabólicos nos descendentes. Estudos demonstram que a obesidade tem relação com inflamação hipotalâmica na prole, o que afeta a função de neurônios reguladores da ingestão alimentar e o gasto energético. Recentemente, Haddad-Tóvolli et al (2023), demonstraram que a prole de mães que alimentadas com dieta hiperlipídica manifestaram danos à barreira hematoencefálica (BHE), mais especificamente na região da eminência mediana do núcleo arqueado. O estudo avaliou o impacto da obesidade materna induzida pela dieta e pela amamentação na integridade da BHE dessa região. Os cientistas demonstraram que a obesidade materna impactou tanto a estrutura quanto na função da BHE da prole. Pela intervenção de amamentação cruzada (filhos de mães obesas sendo amamentados por mães eutróficas) alguns defeitos de integridade da barreira foram recuperados. A prole de mães obesas, amamentada por mães eutróficas apresentou redução da massa corporal e intolerância a glicose comparada com a prole que continuou exposta ao ambiente obesogênico, tanto na vida intrauterina quanto após o nascimento. Além disso, foi observado a normalização da transcrição de genes de neurotransmissores hipotalâmicos envolvidos com integridade da BHE e gasto energético.


1. Haddad-Tóvolli R, Morari J, Barbizan R, Bóbbo VC, Carraro RS, Solon C, Dragano NR, Torsoni MA, Araujo EP, Velloso LA. Maternal obesity damages the median eminence blood-brain barrier structure and function in the progeny: the beneficial impact of cross-fostering by lean mothers. Am J Physiol Endocrinol Metab. 2023 Feb 1;324(2):E154-E166.

Não é novidade o fato da condição de obesidade ser de causa multifatorial, mas fortemente influenciada pela repetição de hábitos alimentares inadequados. Entre tais componentes, o trabalho conduzido por Han et al (2018) mostra que a mastigação ineficiente é mais um dos fatores associados à doença. Utilizando-se da experimentação animal como fundamental à mimetização do comportamento alimentar humano, estudos anteriores realizados com roedores já deixaram claro que, quando alimentados com pellets moles, ocorre intolerância à glicose, resistência à insulina, acompanhada pela interrupção da sinalização de insulina e hiperplasia das células β-pancretáticas, além de aumento da gordura abdominal. Assim, é notável que a textura dos alimentos possa ter influência significativa na regulação da homeostase energética.

A publicação na revista “Experimental Physiology” aborda a seguinte questão central: qual o efeito da textura dos alimentos no acúmulo de gordura, lipogênese e fatores pró-inflamatórios no tecido adiposo e no balanço energético de ratos? Assim, foram separados 2 grupos de ratos machos, da espécie Wistar, com 7 semanas de idade. O grupo controle (Control Pelet [CP]) foi alimentado com ração padrão, composta por 51% de carboidratos, 25% de proteína e 4,6% de gordura. Já o grupo tratado (Soft Pelet [SP]) foi alimentado com a mesma ração, mas umedecida com água, onde, para cada 1 g de ração adicionou-se 1,5 mL de água destilada. O experimento ocorreu durante 27 semanas, com alimentação ad libitum.

Não houve diferença significante de peso entre os grupos, contudo, a ingestão calórica, a lipogênese e o acúmulo de gordura foram maiores no grupo de dieta soft. Ademais, em ratos SP o gasto energético e a utilização de gordura para produção de energia foi maior, o que explica o possível controle do peso. Os níveis de leptina plasmática foram maiores em ratos SP, enquanto os neuropeptídeos anorexígenos CART e POMC estavam reduzidos, quando comparados ao grupo controle, o que explica a ingestão aumentada e aponta para a possível resistência central à leptina nesses animais. As catecolaminas, que são uma resposta ao excesso de gordura, estiveram em maior concentração no grupo SP. Por fim, a expressão dos genes FASN e MCP1, e o conteúdo proteico de ACC (acetil CoA-carboxilase) e pJNK (c-Jun N-terminal kinase), que sinalizam lipogênese (FASN e ACC) e inflamação (MCP1 e pJNK), foram maiores no grupo SP quando comparado ao controle. Dessa forma, o trabalho conclui que, mesmo quando o IMC se encontra dentro do padrão esperado, o consumo frequente de alimentos pastosos pode contribuir para o desenvolvimento de doenças relacionadas ao estilo de vida.

De forma interessante, é fundamental que esse tipo de investigação seja reproduzida em humanos, com randomização e duplo cego, para confirmação dos importante resultados. Diversas diretrizes nacionais e internacionais que tratam sobre o controle da obesidade demonstram a irrelevância do uso de “shakes”, sendo que o presente trabalho aponta para um potencial até mesmo danoso quando do uso desses produtos. Caso seja mesmo comprovado, será necessário a rápida consideração desse aspecto também no conjunto de intervenções do nutricionista clínico.


Referência:

1 - Wanxin Han, Maiko Utoyoma, Sayaka Akieda-Asai, Ayano Hidaka, Chihiro Yamada, Kazuya Hasegawa, Hiroyuki Nunoi, Yukari Date. Influence of food texture on energy metabolism and adiposity in male rats. Experimental Physiology. 2018, Out.; 103(10):1347-1356. DOI: 10.1113/EP087072


Frutose é um açúcar que apresenta caráter lipogênico, podendo ser encontrado livre em alimentos como frutas e mel, ou como componente da sacarose, alcançando, portanto, o açúcar-de-mesa e diversos tipos de alimentos ultraprocessados. Este componente tem sido amplamente estudado quanto ao seu efeito inflamatório, quando consumido em excesso, frente à propagação da adiposidade abdominal e das doenças crônicas. No trabalho desenvolvido por Singh e colaboradores (2022), publicado no Journal of Nutritional Biochemistry, o grupo analisou a relação entre frutose e a proteína NLRP3, proteína à qual faz parte do complexo proteico denominado “inflamassomo”, estrutura reguladora da imunidade inata. Os autores abordaram o efeito lipogênico e inflamatório de uma dieta rica em frutose (60% de sua composição) em roedores. Comparados com uma dieta normal, ao longo de 10 semanas, embora não tenha sido encontrada diferença significante na massa corporal entre os grupos, os animais alimentados com dieta rica em frutose apresentaram aumento considerável do percentual de gordura corporal, bem como alteração do metabolismo de glicose e aumento das concentrações sanguíneas de insulina, triglicerídeos, colesterol total e ácido úrico.

O trabalho também demonstrou, no tecido adiposo epididimal, expressão aumentada de PPARy, SREBP-1c e ChREBP, fatores de transcrição controladores primordiais da síntese de lipídios, assim como seus produtos transcricionais, as enzimas FAS (ácido graxo sintase) e ACC1 (acetil-CoA carboxilase). No que concerne à inflamação, o trabalho demonstrou que a dieta rica em frutose induziu aumento na expressão dos constituintes do inflamassomo, representados pelas proteínas NLRP3, Asc1 e Caspase1 que, por consequência, resultaram no aumento da atividade catalítica do inflamassomo, orquestrado pela proteína Caspase1. Consequentemente houve repercussão no aumento da expressão, conteúdo e secreção de IL1β e IL18. De maneira a aliar tais achados à ascensão de ácido úrico, o trabalho também avaliou os efeitos da dieta rica em frutose combinada com alopurinol ou quercetina, componentes com ação inibitória da formação de ácido úrico, ou gliburida, fármaco inibidor da ativação inflamassomal. Os tratamentos corrigiram a dislipidemia e hiperuricemia causada pela dieta, e bloquearam a ativação do NLRP3, amenizando a resposta inflamatória e o acúmulo de lipídios no tecido adiposo. Os dados deste trabalho sugerem que o alto consumo de frutose induz alterações metabólicas importantes relacionadas à ativação de cascata inflamatória no tecido adiposo epididimal, e que estratégias de inibição do ácido úrico ou NLRP3 poderiam prevenir as alterações metabólicas induzidas por frutose.


Referência:

1 – Sushmita Singh, Aditya Sharma, Bhavimani Guru, Shadab Ahmad, Farah Gulzar, Pawan Kumar, Ishbal Ahmad, Akhilesh K Tamrakar. Fructose-mediated NLRP3 activation induces inflammation and lipogenesis in adipose tissue. J Nutr Biochem. 2022 Sep;107:109080.

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